
Fidel deixa o poder. Essa foi a manchete que estampou as jornais de todo o mundo na semana passada. Em mensagem publicada no Granma, jornal comunista cubano, o ditador afirma que não pleiteará e nem aceitará cargo de presidente do Conselho de Estado e Comandante-em-Chefe. Explicou também que quis preparar os cubanos para a sua ausência e por isso, mesmo debilitado, manteve-se ao poder.
Com Raúl Castro, presidente do Conselho de Estado desde julho de 2006 e irmão mais novo de Fidel, oficialmente no comando, Cuba não deverá sofrer grandes reviravoltas. Mesmo tendo demonstrado por diversas vezes interesse na abertura do regime e no diálogo com as demais nações, as mudanças não vieram. E não creio que virão. A mensagem do autocrata pôs fim ao governo de 49 anos afastando Fidel da estrutura formal de poder, mas não do poder.Cuba continua, como sempre foi, uma prisioneira.
Habitada a princípio por siboneyes, guanajatebes e tainos, Cuba teve o azar de ser avistada logo na primeira viagem de Colombo, em 1492, durante a expansão marítima européia. Ponto estratégico, Cuba passou a ser base de operação dos espanhóis e o porto que mais se destacou.
No final do século XIX, quando todas as outras colônias já tinham conseguido sua independência (independência?) Cuba ainda estava sob o domínio espanhol. Os Estados Unidos, muito preocupados com o vizinho de baixo, tratou de fazer cumprir a Doutrina Monroe da “América para os americanos”. Não era certo que Cuba continuasse prisioneira da Espanha e até dinheiro para comprar a ilha, os norte-americanos ofereceram, deixando os espanhóis indignados com tamanha audácia.
Sem outra alternativa, nossos heróis norte-americanos enviaram ajuda militar à guerra hispano-americana, que libertou Cuba em 1898 das garras dos espanhóis, colocando-a, devidamente protegida, nas garras do vizinho bacana. É bom deixar claro que em momento algum passou pelos pensamentos dos nossos amigos a produção açucareira e as minas cubanas. Tudo foi feito somente pela solidariedade continental. Quanta generosidade!
Daí para o progresso foi um pulo! Nas primeiras décadas do século XX os Estados Unidos tiveram participação ativa na vida econômica de Cuba e os investimentos modernizaram a produção açucareira. A ilha era agora uma moderna feitoria agroindustrial e com crateras de desigualdades sociais. Mas o que importa? Afinal, Cuba era um país independente, não é?
Nos anos 50, o general Fulgêncio Batista, líder da Revolução dos Sargentos, chegou ao poder pela segunda vez, novamente por meio de um golpe militar. Fulgêncio era mais maleável que os antecessores nacionalistas, o que agradou o governo norte-americano. Movimentos revolucionários fizeram forte oposição a Batista e foi então que Fidel Castro entrou em cena.

O jovem advogado nacionalista comandou a tentativa de invasão ao quartel de Moncada, em Santiago de Cuba, em 1953. Fidel foi preso, advogou em sua defesa, mas foi exilado para o México, onde conheceu o argentino Ernesto Che Guevara. Fidel, Che Guevara, Raul Castro e Camilo Cienfuegos foram os principais líderes do movimento revolucionário M-26 e da Revolução Cubana em 1959.
O grupo de rebeldes idealistas conseguiu entrar em Cuba e avançar atacando as bases militares rurais e ficando com as armas. Por cerca de três anos os guerrilheiros seguiram matando e quando chegaram a Havana Fulgêncio havia fugido e foi fácil tomarem o poder com o apoio popular.Aos 32 anos, Fidel assumia o comando de Cuba, que tornou-se um país socialista, o primeiro da América Latina. Aqueles que foram presos durante a batalha e os favoráveis a Fulgêncio Batista sofreram julgamento pelo Tribunal Sumário, onde Che Guevara era responsável, e os pelotões de fuzilamento colocaram fim aos sentenciados.
Cuba passou a ser vista como uma inimiga e sofreu embargo econômico, comercial e financeiro dos Estados Unidos e outros países aliados ao capitalismo, sendo patrocinada pela antiga União Soviética durante a Guerra Fria. Com a queda do bloco comunista, Cuba teve que se manter com os próprios pés. Conseguiu, mas a que preço?
Durante os anos que passou sob o domínio e as vontades de Fidel, o mundo viu melhorias na educação diminuição da desigualdade social e atletas se destacarem em Cuba. São incontáveis os avanços do ponto de vista social em Cuba, país onde o analfabetismo foi erradicado, onde a saúde pública é modelo para todo o mundo, onde a mortalidade infantil é quase zero.
O regime fez bem a ilha. Mas também fez mal. O embargo deixou Cuba em situação delicada e se já não bastasse, Fidel é um ditador, e como tal impôs suas vontades. Em Cuba não existe liberdade de pensamento, de imprensa, de ir e vir. Não existem escolhas. Em Cuba, a decisão vem sempre de cima para baixo sob uma ditadura severa.
E quem vive a democracia? Nós, aqui no capitalismo, vivemos uma ditadura velada onde temos acesso a informação, mas ao mesmo tempo somos metralhados com as informações que interessam ao sistema até que essa nos pareça a maneira mais acertada de pensar. E passamos a agir e a ver o mundo com um pensamento que julgamos ser genuinamente nossos. Julgamo-nos conhecedores da verdade, mas estamos tão alienados que nem nos passa pela cabeça questionar a verdade de quem.
Por esse motivo não me considero apta a avaliar o regime socialista cubano. A visão que tenho é de um Fidel brincando em seu parquinho ilhado, mandando e desmandando, punindo os opositores e discursando por horas a fio para uma platéia que jamais teve acesso a outro tipo de informação.Em Cuba, somente 2% da população tem acesso a internet, o veículo democratizador da informação. E mesmo os que têm, fazem-no sob vigília e risco de punição severa caso visitem sites com idéias contrárias ao socialismo.
Mas voltando ao que interessa, Fidel caiu ou não caiu? Sim, mas isso foi uma outra história.
Fidel Falls - Celebrity bloopers here
Créditos-
Fotografias -Geosites
Vídeo Metacafe
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