Tempo, tempo...



Das coisas mais difíceis do mundo é entender o tempo e ir conforme ele ordena. Uma hora, acelerado, contra nossa vontade; noutra, estagnado, deixando a gente com a impressão de que um mesmo mês tem o dobro dos dias. Relógios e calendários são inúteis. O tempo tem seus próprios recursos.

Para Francisco

Para mim, meu filho tem cheiro de alecrim, de mata fechada, de mar, de terra molhada. Meu filho tem a pele como nuvem, os olhos como raios de sol e o sorriso como a lua. Ele tem os pés macios, as mãos suaves, o peito puro e os cabelos finos como pelos de um coelho. 

Para mim, meu filho não tem defeito, não tem passado, não tem futuro. Meu filho é o meu anjo, de mais ninguém. É minha voz que ele conhece e as cantigas que eu canto que o embalam. 

Para mim, meu filho é o que sempre foi: um sonho. Um sonho forte, como o brilho de uma estrela, que irradia mesmo após o fim de sua existência. Brilha, meu filho. Brilha que a mamãe tá te vendo.

Chora, Izadora!

O vizinho da casa de muro com a minha tem uma Golden. Linda! Quando mudamos para cá, era filhote. Colocava a carinha, curiosa, pra olhar para a minha casa. Se chama Izadora. Não que eu conheça os vizinhos. Vejo os pouco, mas escuto as vozes. E quando se comunicam com a Izadora é sempre audível. "Cala a boca, Izadora". "Fica quieta, Izadora". "Você é chata, Izadora". Nunca os vi passeando na rua. Nunca notei brincadeiras com a Izadora. Nunca ouvi um "vem cá, Izadora".

Outro dia, Elvis, que adora fucinhar o portão, apareceu com um carrapato, já morto, mas ainda na pele. Aumentei a dose do remédio. Encontrei na Nazaré também. "Mas, gente!!! De onde que tá surgindo esses bichos"? Eu sou zelosa, meus cães estão sempre limpos, vacinados, vermifugafos e recebem aplicação mensal de anti-pulgas e anti-carrapatos. Aí descobri. Vem da Izadora. A pobre, que parece até ter pedigree, se coça bastante. Vi pela janela. Problema pra ela e pra mim.

E agora, ela deu pra chorar. A madrugada inteira. Chora, arrasta panelas, chega a uivar. Nazaré, este doce, fica solidária e chora junto, baixinho. Talvez por ter vindo de um centro de zoonose, conheça o frio e a solidão. E eu olho para os meus três vira-latas deitadinhos, cada um com sua cama, sua cobertinha, dentro do meu quarto, claro, e com os pelos saudáveis, a ração de primeira e muito amor e penso: a vida não é justa. E o sofrimento não pergunta qual é a sua raça. Ele chega e toma conta. Chora, Izadora. Mesmo que você atrapalhe o meu sono, chora.  Eu te entendo.

Feliz 2013

Bobeira ou não, eu sempre acredito na mudança que a virada de ano traz. Acredito que esse tantão de gente desejando coisas boas ao mesmo tempo, causa uma explosão de energia positiva e isso faz bem pra todo mundo, até pra quem não acredita.
Acredito que o ano que acaba vai embora sempre levando as inhacas energéticas que a gente não quer mais, basta a gente querer deixar pra lá, pois tem muitos agarrados em carmas, acreditando que Deus quer isso.
E acredito que a cada novo ano temos mais um monte de oportunidades para manter o que queremos, conquistar o que desejamos e descobrir outras coisas que queremos jogar fora.
Amo reveillon! Que seja feliz quem merce ser! Eu mereço!

Amor de dentro pra fora

Eu me olhei no espelho. E vi você. Vi você no meu jeito, nos meus olhos e em meus novos contornos. Vi você como responsável por uma grande transformação. Você me dominou, tomou conta de meu corpo, como dono absoluto. E não só dele, mas de meus pensamentos, sentimentos e, quem sabe, até de minha alma. Sim, eu já não me era a mesma pessoa. Aquela ali, no espelho, era outra muito mais frágil, dependente do seu amor. Enfim, o amor mais clichê de todos os amores aconteceu. E eu, que não me imaginava amando ninguém mais do que a mim mesma, abri mão de qualquer coisa que possa te desagradar. Eu não pretendo lutar contra esse amor arrebatador. Deixarei que ele me defina como uma nova pessoa. Que continue tomando conta de meu corpo e transformando minha vida. Pois eu tenho certeza de que é impossível que, a partir de então, eu continue sendo a mesma pessoa e vivendo a mesma vida. Até porque, a própria vida ganhou um novo sentido, agora que sou geradora da vida e me preparo para viver, intensamente, tudo o que envolve isso, com seus prazeres e responsabilidades.

E se?

E se os nossos caminhos não tivessem se cruzado? E se o desejo não tivesse florecido? E se a vontade de ficar junto não houvesse existido? Certamente muitas lágrimas teriam sido poupadas, muitas palavras ditas não teriam sido pronunciadas e nenhuma mágoa encontraria razão para ser. E se...

E se nenhum beijo de amor tivesse calado a razão? E se nenhum sonho tivesse sido o motivo do caminhar? E se nenhuma gargalhada tivesse escapado dos lábios? Os dias seriam mais curtos; as horas,  mais monótonas; os casos, menos interessantes e os olhos com menos brilho. 

E se o amor não tivesse rompido, com toda sua força, qualquer barreira, sem deixar espaço para o "se"? Eu não seria sua, você não seria meu, nossas vidas não seriam uma.

Feliz daquele que não contempla o "se", que de tão pequeno não vale nem como palavra. Que vá o "se" com toda a sua pequenez buscar espaço para tentar ser mais que um "se"  sem força alguma diante do amor.

Perdi o meu medo da chuva

Por que as pessoas têm tanto medo dos sentimentos negativos? Quando alguém está sofrendo, a nossa primeira reação é dizer "não chore, não se desespere". Por quê? Desejamos enterrar o que é ruim, sem passar pela dor do luto, como se ser feliz fosse uma obrigação.


Dizemos "pense em outra coisa, mude o pensamento". Não. Isso não funciona. Não há nada mais importante do que o drama de cada um. Isso, que nos derruba, precisa se sentido até o esgotamento.


Chorar faz parte da vida. E têm momentos em que não há outra alternativa se não chorar. É preciso ninar a dor, acalentar o sofrimento e permitir-se até ter pena de si mesmo. Assim, encarando de frente a razão de nossos sofrimentos, somos capazes de dimensionar os fantasmas e, com o tempo, expulsá-los de volta para o além. Sorrir tem que ser uma consequência, não uma obrigação.


Pedofilia? É mentira!


Xuxa revelou que foi abusada sexualmente quando criança. “Até meus 13 anos, quando consegui fugir”, disse a apresentadora entre lágrimas. Eu estava assistindo. Engoli seco. O assunto que, constantemente, é colocado debaixo do tapete, pois ninguém quer ter que lidar com isso, estava sendo levantado por uma das maiores celebridades do Brasil. Imediatamente imaginei quantas pessoas haviam sido abusadas na infância e que se identificariam com o depoimento. Acreditei também que o relato seria capaz de dar forças a quem estivesse passando por aquilo para denunciar. Mas sendo Xuxa quem é, vítima de amor e ódio, imaginei, também, que muitas críticas estavam por vir.

Respirei fundo e fui ver nas redes sociais a repercussão do caso. Do espanto fui ao horror. Algumas pessoas, raivosas, alegavam que ela havia feito um filme pornográfico com um garoto de 14 anos e que por isso ela merecia ter passado pelo que passou, “se é que ela havia mesmo passado”. Outras a acusaram de ter sexualizado uma geração inteira de crianças com seus shortinhos curtos. Alguns, ainda mais insanos, levantaram seu namoro com Pele. Esses julgaram-na por ter se relacionado com um homem famoso, mais velho e negro e que, por isso, só poderia ser interesse, nunca amor. Houve ainda um grupo, adepto à teoria da conspiração, que acreditou que Xuxa falou sobre abuso sexual como uma tentativa da Globo para abafar o escândalo de Carlinhos Cachoeira (???). Por último, e o que me deixou mais indignada, houve gente desejando que a filha da apresentadora, Sasha, fosse abusada sexualmente, já que “Xuxa teria inventado toda essa história para se promover, pois não tem o mesmo Ibope de antes”.

Tive pena da Xuxa, como teria de qualquer pessoa que me confidenciasse que foi vítima de pedofilia. Mas tive ainda mais pena dos julgadores hipócritas que levantaram questões, reais ou não, sobre a apresentadora para deslegitimar o que ela havia contado. Por que seria mentira? Todos os dias milhares e milhares de crianças são abusadas sexualmente dentro de casa, nas escolas, na vizinhança, debaixo dos olhos de quem deveria protegê-los, ou até mesmo por esses. E Xuxa não pode ser uma dessas pessoas? Ou ela realmente merece ter passado por esse horror, somente porque você não gosta dela ou, com sua visão rancorosa e preconceituosa, determinou que ela merece sofrer antes, durante e depois de seu estrelato? É absurdo! É cruel! É baixo! É pequeno!

Em defesa aos que fizeram piada ou descreditaram o depoimento eu tenho um único argumento: o assunto é tão pesado, que é mais fácil fazer de conta que ele não existe. É notório que as pessoas não querem ver que nossas crianças passam por esse drama. Há relatos de mães que preferiram chamar seus filhos de mentirosos à acreditar que seus companheiros haviam violentado os pequenos. Acharam mais fácil crer na impureza de seus rebentos do que encarar que o ser humano é um monstro em potencial.

Pois bem, queridos, três dias do desabafo televisionado pela gigante Globo, a Secretaria Nacional de Direitos Humanos recebeu mais de 220 mil ligações com denúncias de abuso sexual infantil. Mas isso não deve ser nada, né? Mais importante é o falar do tal filme que ela fez. Ou do seu envolvimento com o Pelé....

Videochat sobre adoção de animais

A veterinária da SMPA tira dúvidas e fala sobre importância da adoção de animais abandonados. No vídeo, a jornalista Letícia Murta e o repórter Anderson Rocha 






Animal não é brinquedo


Todo mundo adora um animalzinho de estimação. São fofos, dengosos e lindos. Mas não é só isso. Animais são seres que exigem certas responsabilidades que nem todos desejam ter. Todo bicho precisa comer, beber água e "ir ao banheiro". Todo animal necessita de atenção, de um ambiente limpo e de cuidados veterinários. 


Na empolgação de ter um bicho de estimação, as pessoas não pesam os gastos financeiros e emocionais que um animal requer. E, por isso, é uma atitude séria e madura adotar um peludinho. Já pensou em onde deixá-lo quando precisar viajar? Já calculou os gastos previsíveis, com vacinas e rações, e os imprevistos que podem surgir? Já pensou que terá que ensiná-lo a fazer suas necessidades em um local específico e que você precisará limpar?
O número de animais abandonados pelas ruas das grandes cidades só aumenta. E engana-se quem acha que somente os vira-latas ficam por aí, sem um lar. Estudos apontam que a maioria das pessoas que abandona seus animais, comprou e pagou caro por uma determinada raça e que, depois de notar o quanto o bicho depende dele, resolve abandonar. O abandono aumenta ainda mais em períodos de férias. Alguns proprietários de clínicas veterinárias e pet shops relatam, inclusive, casos de pessoas que deixam o bichinho para tomar banho e não voltam nunca mais para buscar.


Em tempos de datas festivas (Dia das Crianças, Dia dos Namorados, Natal...) encontramos com frequência anúncios com ofertas de animais para serem adquiridos como presentes. Não faça isso! É de extrema irresponsabilidade presentear alguém com um animalzinho sem ter a certeza de que essa pessoa deseja ter essa responsabilidade. Cada espécie e raça vive por um período de tempo, e a média de idade de um cachorro, por exemplo,  é de 13 anos. Um animal de estimação é como um filho que nunca cresce. Ele dependera de você para sempre.
Então, se você pretende ter um mascote, analise todos os contras, pois os prós são garantidos, mas somente para quem quer vivenciar a alegria de ter um animal integralmente.

Eu queria ser professora

Quando eu era criança, sonhava com algumas profissões. Eu dizia que queria ser bailariana, atriz, cantora e professora. Achava todas essas profissões sensacionais. As três primeiras, faziam parte somente do plano dos sonhos, já que eu não conhecia nenhuma atriz, cantora e muito menos uma bailarina. Mas achava-as lindas. A última, era a única daquelas profissões que fazia parte de minha realidade e, mesmo convivendo com professoras desde sempre, continuei a achar a profissão belíssima.

Para mim, as professoras estavam em um patamar elevado na escala social. Professoras eram fonte de sabedoria, conhecimento, dedicação e amor infinito. Eu acredita que ser professora era uma sentença de felicidade. Eu e minhas amigas brincávamos de escolinha e a briga era certa para saber quem seria a professorinha da brincadeira.

Não me tornei nem cantora, nem atriz, nem bailarina e muito menos professora. Mas de todas as profissões que enfeitaram minha infância, continuo achando a de professor a mais importante. E é. Pelo menos, para mim.

Outro dia, ouvindo a conversa de três meninas com cerca de dez anos, notei que o tempo passou, passou muito, e a vida mudou para pior. Na clássica conversa de crianças, uma delas perguntou: “o que você quer ser quando crescer?”. Espichei os ouvidos, pronta para me deliciar com os devaneios infantis sobre como as crianças enxergam o mundo adulto. A primeira soltou que queria ser química. Achei estranho, confesso, achei uma profissão muito séria para uma criança querer. A segunda disse que queria ser bióloga. Menos mal. Imaginei que na cabeça infantil a criança sonhava em mexer com os bichinhos, explorar matas e cavar a terra em busca de minhocas e formigas.

A terceira disse, muito orgulhosa, que queria ser professora. Professora!!! Eu vibrei!. Mas a euforia dela e a minha durou pouco. As outras duas caçoaram da pequena, admiradas com a sua inocência. Riram muito. A menininha se entristeceu. Eu, também. A "pequena professorinha" então perguntou qual era o problema em ser professora. Uma das outras duas respondeu, senhora de si, que o salário de um professor era uma ninharia e que a amiguinha seria a mais pobre de todas. Eu quis chorar. A pequena sonhadora, também.

O que fizeram com nossos professores? O que fizeram com nossas crianças?

As crianças não escolhem mais a profissão, pelo menos a primeira profissão, com base no que parece ser legal, mas no que "dá dinheiro". Que triste! E os professores?. Esses andam humilhados, sem respeito dos alunos, dos pais e, principalmente, do governo. Não faço ideia de que tipo de geração estamos deixando para o mundo. E sem professores que atuem por vocação e amor, mas por ser uma última opção dentre as várias profissões disponíveis, a tendência é que tudo fique ainda pior. 

A intimidade de um drama


Participar das sessões de análise de outra pessoa, desfrutando de seus medos, segredos e traumas, pode ser, ao mesmo tempo, constrangedor e excitante. O livro "Identidade Roubada", da canadense Chevy Stevens, publicado no Brasil pela editora Arqueiro, oferece ao leitor a oportunidade de experimentar a sensação de acompanhar os relatos de um paciente na cumplicidade do divã.


Narrado em primeira pessoa, "Identidade Roubada"relata a história de uma jovem corretora de imóveis que, ao atender um possível cliente, é sequestrada e, durante um ano, é mantida em cativeiro em um chalé no alto das montanhas, sendo submetida a torturas e abusos. Com uma narrativa forte, Annie O’Sullivan, a protagonista, vai desenrolando a história diante de sua terapeuta com tamanha intensidade, ao ponto de fazer o leitor manter a respiração suspensa em vários pontos da trama.


A narrativa da vida em cativeiro, sob os domínios do psicopata, é apenas um das questões atraentes do romance. Indo além disso, o ponto alto de "Identidade Roubada" está nos fatos revelados ao longo do livro e no mistério que envolve o sequestro. Mesmo após conseguir escapar de seu algoz, Annie não se sente livre e acaba desenvolvendo comportamentos compulsivos. Intercaladamente à descrição dos fatos sofridos no período do cativeiro, ela revela que tem um passado comprometido por uma tragédia familiar e situações afetivas mal-resolvidas. Todos esses elementos compõem uma atmosfera de suspense narrativo, num enredo alimentado por surpresas e por um forte componente emocional.


A autora costura de maneira eficaz os fatos e, a cada página, intriga e prende o leitor. Além disso, Chevy realiza a construção dos personagens com muita competência e as características marcantes permitem a identificação das figuras dramáticas com bastante riqueza de detalhes. Nos últimos capítulos, com o avanço das investigações policiais sobre o sequestro, o livro torna-se ainda mais envolvente. Os fatos são bem amarrados e o desfecho é surpreendente.


"Identidade Roubada" é o romance de estreia de Chevy Stevens. A autora trabalhou como agente imobiliária e, nos momentos em que esperava por clientes para visitar os imóveis, passou a imaginar o que poderia acontecer com ela. Durante esses momentos, imaginou a possibilidade de um sequestro. Nascia aí a história que foi vendida em mais de 20 países até agora e tornou-se best-seller na Alemanha e nos Estados Unidos.


A resenha foi publicada no caderno Magazine, do jornal O TEMPO, em 27/08/2011. Leia aqui

Intolerância, a pior das armas

A intolerância da raça humana me assusta. Jamais resolveremos grandes conflitos, como as guerras, pois, na menor das diferenças, já se acende a chama da intransigência. Quem quer paz deve começar a analisar os próprios atos.

Quando julgamos a eterna briga entre palestinos e muçulmanos não pensamos que, em menor proporção, fazemos o mesmo com um vizinho, um parente, um colega de trabalho. Ao nos negarmos a aceitar pequenas diferenças, iniciamos uma batalha.

Não adianta lutarmos para o fim do preconceito contra negros e homossexuais, se não conseguimos aceitar nem mesmo que alguém torça para um time contrário, tenha uma religião diferente ou goste de cachorros. Para um mundo melhor, devemos iniciar o trabalho em nosso interior.

Doce lembrança


Desfrute do hoje antes que ele vire saudade. 
Saboreie os pequenos acontecimentos como se fossem eventos.
Celebre as pessoas de todos os dias, pois, um dia, 
elas não estarão mais presentes em 
todos os dias.
Tema a perda e tenha a certeza de que tudo é perecível.
 Tenha essa noção sem amargura, mas plante a semente
 da nostalgia agradável que irá 
vivenciar posteriormente para que essa lembrança 
não se torne um peso 
de remorso de quem teve e não soube aproveitar.

O abraço que eu nunca esqueci

Doce na medida certa. Severa, com a tranquilidade de poder fraquejar e, até, voltar atrás. Obrigação, só com os agrados. Benditos os netos que têm o privilégio de saborear tudo que uma avó pode oferecer. Dizer que avó é mãe duas vezes é um erro.Avó não é mãe.É muito mais que isso. Avó é carinho natural, é presente divino, é sopro de alegria. Avó é o refresco que a vida oferece, aquele afago gostoso que cura qualquer dor. 


Muitos não têm a sorte de conviver com suas avós. Alguns, por força da vida, outros, por escolha. Não julgo, apenas lamento a triste decisão desses que abrem mão do aconchego mais doce que alguém pode conhecer. Eu convivi, saboreei, abracei, beijei, confidenciei. Usei e abusei de minha avó até os últimos instantes de sua vida. Nossa convivência foi longa e intensa, mas a saudade que sinto me leva a pensar que poderia ter estado ainda por mais tempo ao seu lado. A dor de sua ausência só não é maior do que o amor que sinto. Minha vovó, quanta saudade! Pensar que ela hoje se tornou um anjo que está constantemente ao meu lado é um alento. Embora eu mesma não acredite nisso, conforta-me pensar assim. E, afinal, é o que me resta. 


Se eu pudesse dar um conselho, entre tudo que eu pudesse dizer, eu diria: aproveitem suas avós!

Chamada para o jornal Pampulha de 23/07/11

Sanidade é luxo


Loucos são vitimas perfeitas, pois falam e ninguém escuta. O ruído dos loucos é  ouvido, mas o conteúdo de seu barulho é incompreensível ao resto do mundo. E, uma vez declarado louco, tudo que se faz é considerado parte da loucura. A sanidade não é uma escolha. A loucura também não. 

Por favor, um remédio para viver

Preciso de remédio pra dormir, para acordar, para não comer e para fornecer vitaminas suficientes para meu organismo.
Remédio para conviver, para socializar, para aceitar a realidade e para aprender a ser só.
Quero um remédio para saber brigar, para digerir sapos e para aprender a perdoar.
Necessito de remédios para problemas de coração, bagunça mental, para respirar aliviada e para desarranjo espiritual.
Não posso esquecer da medicação para melhorar a memória, para esquecer o que não quero lembrar, decorar fisionomias e apagar nomes.
Não, não quero a cura, quero apenas me medicar. Preciso somente controlar alguns problemas que me incomodam; de resto, vou bem de saúde.  

Quem sou eu?


Não levo desaforo para casa. Não mesmo! Peito qualquer um, falo alto, dou o troco e, muitas vezes, apelo para o palavrão. Brava, durona, segura e com respostas na ponta da língua. Sou assim! Sou? Aparentemente sim. A qualquer um que perguntar, obterá as respostas acima. Mas nem sempre foi assim. Era uma menina tímida, apanhava na escola, não tinha coragem de expor opiniões. Vontades, tinha muitas, mas não ousava pronunciá-las. Não só me sentia inferior, como, verdadeiramente, era.

Não sei dizer quando o subconsciente trocou de lugar com o consciente. Pois, quando penso em mim, quando me imagino, ainda sou aquela menina boba. Mas quando lembro de mim na infância, eu me recordo com muita clareza da fera enrustida que, em bote, esperava a hora de atacar. Eis a grande confusão. Será que sou uma mulher boba tentando me defender com extravagantes gestos ou era uma menina esperta que escondia a verdadeira face por traz da cara de medo?