Chora, Izadora!

O vizinho da casa de muro com a minha tem uma Golden. Linda! Quando mudamos para cá, era filhote. Colocava a carinha, curiosa, pra olhar para a minha casa. Se chama Izadora. Não que eu conheça os vizinhos. Vejo os pouco, mas escuto as vozes. E quando se comunicam com a Izadora é sempre audível. "Cala a boca, Izadora". "Fica quieta, Izadora". "Você é chata, Izadora". Nunca os vi passeando na rua. Nunca notei brincadeiras com a Izadora. Nunca ouvi um "vem cá, Izadora".

Outro dia, Elvis, que adora fucinhar o portão, apareceu com um carrapato, já morto, mas ainda na pele. Aumentei a dose do remédio. Encontrei na Nazaré também. "Mas, gente!!! De onde que tá surgindo esses bichos"? Eu sou zelosa, meus cães estão sempre limpos, vacinados, vermifugafos e recebem aplicação mensal de anti-pulgas e anti-carrapatos. Aí descobri. Vem da Izadora. A pobre, que parece até ter pedigree, se coça bastante. Vi pela janela. Problema pra ela e pra mim.

E agora, ela deu pra chorar. A madrugada inteira. Chora, arrasta panelas, chega a uivar. Nazaré, este doce, fica solidária e chora junto, baixinho. Talvez por ter vindo de um centro de zoonose, conheça o frio e a solidão. E eu olho para os meus três vira-latas deitadinhos, cada um com sua cama, sua cobertinha, dentro do meu quarto, claro, e com os pelos saudáveis, a ração de primeira e muito amor e penso: a vida não é justa. E o sofrimento não pergunta qual é a sua raça. Ele chega e toma conta. Chora, Izadora. Mesmo que você atrapalhe o meu sono, chora.  Eu te entendo.

Um comentário:

  1. Nossa, queria botar os donos dessa pobrezinha para dormirem no relento e passar fome! Affff pra que ter cachorro se nao quer dar carinho, amor, atenção, brincar, passear?
    Ah nem...

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