Eu queria ser professora

Quando eu era criança, sonhava com algumas profissões. Eu dizia que queria ser bailariana, atriz, cantora e professora. Achava todas essas profissões sensacionais. As três primeiras, faziam parte somente do plano dos sonhos, já que eu não conhecia nenhuma atriz, cantora e muito menos uma bailarina. Mas achava-as lindas. A última, era a única daquelas profissões que fazia parte de minha realidade e, mesmo convivendo com professoras desde sempre, continuei a achar a profissão belíssima.

Para mim, as professoras estavam em um patamar elevado na escala social. Professoras eram fonte de sabedoria, conhecimento, dedicação e amor infinito. Eu acredita que ser professora era uma sentença de felicidade. Eu e minhas amigas brincávamos de escolinha e a briga era certa para saber quem seria a professorinha da brincadeira.

Não me tornei nem cantora, nem atriz, nem bailarina e muito menos professora. Mas de todas as profissões que enfeitaram minha infância, continuo achando a de professor a mais importante. E é. Pelo menos, para mim.

Outro dia, ouvindo a conversa de três meninas com cerca de dez anos, notei que o tempo passou, passou muito, e a vida mudou para pior. Na clássica conversa de crianças, uma delas perguntou: “o que você quer ser quando crescer?”. Espichei os ouvidos, pronta para me deliciar com os devaneios infantis sobre como as crianças enxergam o mundo adulto. A primeira soltou que queria ser química. Achei estranho, confesso, achei uma profissão muito séria para uma criança querer. A segunda disse que queria ser bióloga. Menos mal. Imaginei que na cabeça infantil a criança sonhava em mexer com os bichinhos, explorar matas e cavar a terra em busca de minhocas e formigas.

A terceira disse, muito orgulhosa, que queria ser professora. Professora!!! Eu vibrei!. Mas a euforia dela e a minha durou pouco. As outras duas caçoaram da pequena, admiradas com a sua inocência. Riram muito. A menininha se entristeceu. Eu, também. A "pequena professorinha" então perguntou qual era o problema em ser professora. Uma das outras duas respondeu, senhora de si, que o salário de um professor era uma ninharia e que a amiguinha seria a mais pobre de todas. Eu quis chorar. A pequena sonhadora, também.

O que fizeram com nossos professores? O que fizeram com nossas crianças?

As crianças não escolhem mais a profissão, pelo menos a primeira profissão, com base no que parece ser legal, mas no que "dá dinheiro". Que triste! E os professores?. Esses andam humilhados, sem respeito dos alunos, dos pais e, principalmente, do governo. Não faço ideia de que tipo de geração estamos deixando para o mundo. E sem professores que atuem por vocação e amor, mas por ser uma última opção dentre as várias profissões disponíveis, a tendência é que tudo fique ainda pior. 

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