A boneca de pano

Como de costume, abriu o baú em busca de sua boneca favorita, mas ela não estava mais alí. A menina se espantou e continuou procurando a boneca de pano macio, com os cabelos vermelhos e vestido florido, tão familiar que confundia-se com ela mesma. Ela não concebeu a idéia de viver longe daquela boneca que, mesmo tão pequena, representava tanto. Na verdade, era uma bonequinha frágil, velha e suja. O vestido florido já estava encardido e a boneca não transmitia nada, tinha os olhos mortos e o sorriso imbecilizado. Tantas outras já foram fabricadas com melhores materiais e tão mais belas. Mas a menina queria sua boneca de vestido florido e cabelos vermelhos, aquela que ela tinha depositado seus sonhos, alegrias e fantasias e sem ela, como viveria? Tinha medo de pensar.

Revirou o baú, olhou nos armários e embaixo da cama, mas a boneca tinha verdadeiramente sumido. Em um ataque de raiva quebrou os outros brinquedos, arrancou a cabeça das outras bonecas e caiu em pranto. Quem poderia ter tirado dela, o que ela mais amava?. Como iria conviver com a ausência angustiante? Ela era agora só dúvidas. Perdeu o rumo, o chão, a identidade.

Sem a boneca tudo o que restou perdeu a graça.A menina julgava ter perdido algo vital, mas estranhamente estava viva. Ao menos, era assim que seria classificada. Seu coração ainda pulsava, mas batia em ecos. Para ela, havia sido retirado a sua essência e restava conviver com o que sobrou. E o que doía mais era a certeza de que mesmo com toda dor, continuaria vivendo.

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