Vontade de se divertir, ter prazer e viver bem não envelhece.
Aposentados? Só se forem as bengalas e as cadeiras de balanço. A vida mudou em todos os sentidos e para os idosos também mudou. Se Chapeuzinho Vermelho fosse um personagem atual, certamente daria com a cara na porta ao ir a casa da vovozinha sem avisar. Com a vida cada vez mais ativa, os idosos do século XXI definitivamente não estão mais por conta de fazer bolinhos e esperar os netos chegarem.
Em uma pesquisa a Fundação Perseu Abramo mostra que 82% dos idosos não têm medo de morrer e que 69% considera envelhecer melhor hoje do que há três décadas. O estudo mostra também que o idoso brasileiro tem ganhos próprios, vontade de estudar, gosta de manter-se informado e de se divertir
A aposentada Marlene Maria da Silveira, de 73 anos, é um bom exemplo de vitalidade e alegria. Marlene é viúva há dez anos, tem um filho e mora sozinha. Com a aposentadoria e a pensão do marido vive e se diverte. Ativa, faz caminhadas diárias e musculação três vezes por semana. A aposentada ocupa todo o seu tempo com atividades que lhe proporcionem prazer e alegria. Para ela, esta é a meta. Marlene busca o equilíbrio do corpo e da alma e para isso, além da ginástica, faz aulas de dança de salão e yoga.
A aposentada adora se divertir e considera este o momento de colher os frutos dos anos de trabalho. “A vida está só começando e tenho muita coisa para fazer e conhecer”, diz com alegria. Marlene faz questão de dirigir seu próprio carro, já saltou de pára-quedas e no último carnaval fez duas tatuagens, uma no seio e outra nas costas. Com uma energia de deixar muito jovem de queixo caído, a aposentada conta que quer ainda este ano ir a uma festa de música eletrônica e saltar de um bungee jumping, um equipamento onde a pessoa fica amarrada pelos pés a um elástico e pula de uma plataforma fixa.
Marlene é espontânea, alegre e faz questão de deixar claro que a idade não a limita em nada. Para ela, envelhecer não significa mudanças de personalidade ou algo que reprima suas vontades. A aposentada acredita que hoje o idoso tenha mais espaço na sociedade e por isso mesmo devem buscar o que gostam de fazer ao invés de ficar em casa esperando o fim da vida. “Geralmente não paro em casa, não tenho tempo para tricô ou qualquer uma dessas coisas que me deixem quieta. Sou da rua e adoro uma cervejinha. Estou sempre perto de pessoas que queiram viver com alegria e que possam me ajudar a ser cada vez mais feliz”, conta a aposentada aos risos.
O empresário Carlos Eduardo Gravatá completa 65 anos em novembro deste ano. Com três filhos adultos e uma neta, de três anos, ele diz ter certeza de estar vivendo a melhor fase de sua vida. Gravatá olha com bons olhos sua “entrada oficial” na terceira idade. Para ele, algumas mudanças já são claras. “Só agora eu estou perdendo o medo do ser humano e assumindo minhas verdadeiras vontades”, garante.
Segundo o empresário, a terceira idade permite quebrar os padrões que durante toda a vida adulta envolvem uma pessoa. “Eu nunca imaginei que não ligaria para as aparências, as opiniões e certos conceitos sociais. Agora posso fazer o que realmente gosto, sem depender da aprovação da sociedade”, afirma. O empresário acredita que nem mesmo os filhos e os netos devem constranger o idoso. “As vezes meus filhos se assustam com alguns comportamentos que tenho. Mas deixo bem claro que busco a felicidade e para isso vou fazer o que achar que devo fazer”, diz com convicção.Ele considera a terceira idade uma fase libertadora e um período para o auto-conhecimento e a diversão.
Gravatá acredita que o segredo para envelhecer bem é continuar fazendo o que gosta, sem pensar que a idade possa interferir. O empresário usa a internet para estudar sobre assuntos que sempre teve interesse, como a época medieval e a Igreja Católica. Ele também gosta de tratar fotografias e fazer criações artísticas em programas de computação gráfica. Gravatá não esquece do lazer e garante que a cachaça o acompanha sempre. Amante da boa música, o empresário até ensaia alguns toques em instrumentos de percussão para acompanhar uma roda de violão.
Para ele, não existem espaços de jovens e idosos, mas acha que muitas vezes a pessoa mais nova não se sente à vontade com os mais velhos. “Uma vez estava em uma boate dançando e me divertindo. Um rapaz se sentiu muito incomodado comigo e me olhou com um olhar reprovador. O jovem pensa que o velho não se diverte, não tem prazer, não faz sexo”, lamenta
Jose Martins é um simpático dono de restaurante durante a semana e aos sábados e domingos se transforma em um motoqueiro radical. José prefere não dizer a idade, mas garante já ter passado dos 60. “Quando estou pilotando minha Harlley Davidson a idade torna-se ainda mais insignificante”, afirma .José participa de encontros de motoqueiros por todo o país e faz da velocidade em duas rodas a sua grande paixão.
O hobbie acompanha José há dez anos que garante não ter medo da morte. “Eu sei que a moto é um veículo perigoso e qualquer deslize pode causar um acidente sério. Eu me cuido para que nada aconteça, mas o que me guia é a adrenalina e é só nisso que penso quando estou pilotando”, garante o motoqueiro sob o olhar reprovador da esposa.Márcia Martins, de 66 anos, é casada com José há 45 anos e tem três filhos com ele. Márcia acompanha o marido em algumas viagens e garante gostar da diversão, mas afirma ser mais cautelosa. “Eu gosto de moto, mas nem tanto de velocidade”, diz.
De acordo com a pesquisa da Fundação Perseu Abramo, o idoso além de se dedicar mais ao lazer, também está mais preocupado com qualidade de vida. Um shopping center no centro de Contagem, Região Metropolitana de Belo Horizonte, oferece diariamente há dez anos aulas de ginástica coletiva e percebe que de uns anos para cá, o público da terceira idade está aumentando. Para o instrutor do projeto Igor Correa de Chagas o idoso percebeu que a atividade física faz bem para a saúde física garantindo a estabilidade da pressão arterial, da freqüência cardíaca, ao mesmo tempo em que beneficia o bem estar mental.
Sebastião Felipe de Lélis de 72 anos, conhecido como Tião, acorda todos os dias às cinco horas da manhã para fazer as aulas de ginástica. Tião garante que a ginástica auxilia nos cuidados da forma física e também da mente. Para ele, a atividade permite cuidar do corpo ao mesmo tempo em que oferece diversão. O aposentado afirma ter feito amizades com os outros freqüentadores da ginástica e que este é um dos pontos principais para manter-se jovem. “Os amigos que fiz na ginástica são motivação para que eu tenha prazer de malhar todos os dias”, afirma.
Sem muito esforço, o aposentado encosta as mãos nos pés com o corpo ereto, demonstrando uma elasticidade invejável. A idade parece realmente não limitar o aposentado que pratica todos os exercícios de alongamento e afirma não sentir nenhuma dor. Além de muita malhação, Tião toca violão e gosta de sair para dançar. O aposentado não aceita o conceito de terceira idade, para ele esta é a melhor idade. “O velho está na cabeça da pessoa, eu posso estar com 100 anos que não vou ser velho” afirma Tião com muita vitalidade.
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