O quarto romance de Chico Buarque, Leite Derramado, revela a maturidade literária do autor que, por meio de fragmentos, prende o leitor do início ao fim do livro. Leite Derramado já pode ser considerado um clássico da literatura brasileira, com todos os méritos que o autor merece.
A narrativa atemporal, permeada de metáforas, de um membro da aristocracia brasileira, aos cem anos em seu leito de morte, conduz o leitor à saga de uma família, tendo como pano de fundo a história política do Brasil. Poesia, humor, lirismo e amargura são lançados ao longo do livro na medida certa, mostrando os costumes e preconceitos de um Brasil decadente.
Lembranças de um ancião, que sofre por um amor mal resolvido, revelam nas entrelinhas uma esposa infiel em meio a inocência do narrador na crença do amor eterno. O uso do texto fragmentado permitiu que o autor fizesse com maestria a evolução da personagem Matilde que de secundário torna-se o eixo da narrativa.
Um texto que funde memórias e devaneios, gerando uma proximidade muito grande com o fluxo natural do pensamento, acaba confundindo, propositalmente, o leitor. Com singular sagacidade o brilhante escritor revela elementos fundamentais do romance ao longo do livro, em doses homeopáticas, prendendo a atenção do leitor e instigando a curiosidade.
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